sexta-feira, 29 de agosto de 2008

noite de carnaval

Pelo rosto inchado, olhos vermelhos e baixos e fala incognitível, Mara o sentenciou como drogado. Era seu filho, Flávio, que chegou em casa por volta das 3 da manhã em casa. O dialogo entre ambos não se deu. Tanto pela fala de Flávio quanto pela raiva de Mara. O filho de 27 anos ainda tentava alguma forma de comunicação, apoiou com os braços seu corpo no ombro da mãe. Tentava um contato com o olhar dela, porém a tontura e a visão embaçada impediram-no. Mara intransigente a situação empurrou o corpo magro de 1,76 do filho ao sofá. Flávio sem força foi levado, depois de um tropeço na mesa de centro que lhe causou leve luxação no joelho.
Era uma terça de carnaval, o rapaz com mais dois amigos, Francisco Maria da Costa, vulgo Candiru, e Marcio Dentinho, saíram por volta das 7 da noite para o bloco de carnaval conhecido como “Vai quem quer”. Ao chegarem à festa Flávio cheirou cocaína, fumou maconha e bebeu pouco.
Depois da festa os amigos tomaram rumos diferentes. Próximo a sua casa, Flávio era esperado. Pelas costas foi acertado na cabeça por um porrete. A arma revestida de sal grosso impediu a exposição da hemorragia. Era o desfeche de briga antiga. Flávio teve uma hemorragia interna crânio-encefálica, morreu minutos depois de cair no sofá.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

fúria

A casa de Maria Francisca foi degradada, hora antes de chegar em casa. Enquanto enxugava as lágrimas de desespero para ver melhor a destruição, pausava em cada objeto que lhe custou caro e examinava-os, leigamente, na possibilidade de conserto.
Ela não tem inimigos. Nem amigos. Os familiares são pouco presentes.
Ao chegar no banheiro, viu no espelho pequeno de moldura laranja riscado a palavra vingança. Não lhe significou nada, pois nada devia. Na procura de informações descobriu por vizinhos que umas 20 pessoas entre velhas, velhos, crianças, jovens invadiram enfurecidos sua casa na busca de vingança.
Doze horas antes, José Francisco, 17, irmão de Maria, matou Leo, 16. O assassinado perdeu um DVD dos Racionais original do acusado, que no intuito de assustá-lo, enfiou-lhe faca amolada no estomago. Porém, para Leo, bastou.

domingo, 10 de agosto de 2008

Alice

Atentado por vizinho, entrou em casa, bateu na esposa e logo foi ao quarto onde a filha, de quatro, silenciosa, transava com o virgem Amilton. Depois disto, todo santo dia, Elivielton chora e bebe lembrando da cena.
Alice não sabia o nome de Amilton, mal sabia o que ocorria, o crack fez a se perder de novo em mundo diferente, aquele que sempre volta desde a primeira pedra. A mãe sabia o nome de Amilton, esperava-o. O menino precisou roubar 7 reais da carteira do pai para comprar uma foda com Alice. Três clientes por dia davam o suficiente para sustentar mãe e filha em vício maldito.
Hoje, seca, a menina de treze, dois anos depois do ocorrido, espera todo santo dia, em frente ao riacho Maceió, cliente chegar e, por três ou cinco reais, faz-lhe um boquete rápido.
O primeiro trago seco e fedido logo a deslocou para mundo distante que acabava rápido. Alice não sabe mais viver em outro lugar.