sábado, 12 de julho de 2008

Por amor

O primeiro puxar serviu apenas para afrouxar. No segundo o resultado desejado. Simultâneo à ação sinistra, lágrimas e um chorar de quem perdeu o perdido. Um último beijo de gosto nojento seguido por uma ânsia de vômito, e Cláudio a colocou de volta na eternidade. Silvana era o nome dela, hepatite a causa de sua morte. Ao ser recolocada no caixão, Cláudio ajeitou desnecessariamente o decote dela. Em dois anos de namoro, Cláudio nunca gostou de decotes; chamavam atenção demais. Na prisão, quando Silvana ia lhe visitar, era uma briga só.
Após ter terminado o serviço de enterrá-la, Cláudio cheira o chumaço de cabelo arrancado de sua amada no segundo puxão. Última lembrança, já que não o liberaram da prisão para se despedir da noiva. O cabelo fedia verme e barata.
Era já 12h12min no seu relógio digital, precisava ir. Saiu tranqüilo como entrou, um pouco mais fanhoso pelo choro. Ao chegar em casa, foi à cozinha pegar o pote que havia reservado para guardar o cabelo de Silvana. Era de vidro, ficaria no seu criado mudo.
Para o desfecho do serviço criminoso, a queima das provas. Alguns jornais e um pouco de álcool fazem a fogueira e, de frente ao fogo, Cláudio se despe e queima todas as suas roupas. Olha pela última vez as horas, 02h03min, e joga seu relógio. Às 3h, Cláudio já tinha feito fogo o suficiente para chamar atenção dos vizinhos e da polícia. Dez para as cinco, marcado no relógio de parede da delegacia, Cláudio tinha terminado a história no interrogatório. O delegado, a escrivã e os policias estarrecidos olhavam-no. Cláudio vendo o choque de todos termina:
“Fiz isto por amor...”.

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